terça-feira, 7 de setembro de 2010

Caixa



Tenho uma caixa de relógios – espaço para doze, nove dispostos – e todos indispostos a funcionar.
Esta caixa, dorme em cima da minha cabeça – sobre a prateleira dos livros que não li – e lá todos os relógios dormem.

Um dia decidi não usar mais relógios e esse dia me parece muito próximo dos dias em que acumulava relógios.

Não sei se é o peso dos livros que não li, mas parece sempre que os relógios gritam ali em cima, a caixa um pouco bamba, com medo de cair.

Quando durmo, os meus olhos semi-cerrados – as pessoas tem medo disso -, sonho o que minhas retinas perdidas em dois mundos me oferece.

Então sonhei os livros nunca abertos, cansados de esperar o nascer, que penderam para a esquerda com um vento mancomunado e deixaram a caixa – que os olhos semi-cerrados enxergavam – escorregar fazendo os relógios entrarem um por um pelo centro da minha testa desprevenida que quase sonhava outro mundo, mas foi obrigada a sonhar estes relógios coloridos e estáticos a marcar as horas erradas, os ponteiros moribundos, as telas apagadas, os traços dos dígitos todos formando oitos, oitos e oitos quadrados - ironizando-me com um infinito cheio de arestas.

Lumiar, terça-feira, 7 de setembro de 2010. 13:32 - 13:46. 

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