segunda-feira, 13 de setembro de 2010

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Caixa



Tenho uma caixa de relógios – espaço para doze, nove dispostos – e todos indispostos a funcionar.
Esta caixa, dorme em cima da minha cabeça – sobre a prateleira dos livros que não li – e lá todos os relógios dormem.

Um dia decidi não usar mais relógios e esse dia me parece muito próximo dos dias em que acumulava relógios.

Não sei se é o peso dos livros que não li, mas parece sempre que os relógios gritam ali em cima, a caixa um pouco bamba, com medo de cair.

Quando durmo, os meus olhos semi-cerrados – as pessoas tem medo disso -, sonho o que minhas retinas perdidas em dois mundos me oferece.

Então sonhei os livros nunca abertos, cansados de esperar o nascer, que penderam para a esquerda com um vento mancomunado e deixaram a caixa – que os olhos semi-cerrados enxergavam – escorregar fazendo os relógios entrarem um por um pelo centro da minha testa desprevenida que quase sonhava outro mundo, mas foi obrigada a sonhar estes relógios coloridos e estáticos a marcar as horas erradas, os ponteiros moribundos, as telas apagadas, os traços dos dígitos todos formando oitos, oitos e oitos quadrados - ironizando-me com um infinito cheio de arestas.

Lumiar, terça-feira, 7 de setembro de 2010. 13:32 - 13:46. 

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Soneto de solidão (pós-moderna-virtual-ultra-romântica)




Seduz-me impassível o frio ecrã,
Fere de brilho as vistas frágeis,
Magnetiza os finos dedos ágeis,
Digitais biológicas do meu afã.

Pelos mesmos sítios em vão navego,
Nau perdida em mares conhecidos
Procurando num novo perfil fingido
Um sopro na vela que infle o ego.

Só que hoje o mar em plácido tapete
Negou-me email, testemonial,  fuçada;
Nem scrap em garrafa puxa o molinete.

O último post é da semana passada;
Ninguém me curtiu, ctrl-auto-delete;
Só me resta o reset pra minha toada.